Um presidente senil, uma vice-presidente polêmica, um magnata contestado e um cenário eleitoral que, ao menos de acordo com a mídia tradicional, parecia indefinido. Um quadro agravado pela aparente duvidosa capacidade de liderança de Joe Biden, que em diversas aparições públicas deixava a impressão de senilidade avançada, saúde frágil, capacidade cognitiva reduzida e longe das condições adequadas a cumprir um novo mandato presidencial, especialmente tratando-se da nação de maior influência no mundo.
A campanha iniciada com Biden logo sofreu uma mudança com a entrada de Kamala Harris, sua vice-presidente, preferida pela mídia e por segmentos sociais mais à esquerda no espectro político, que parecia ser a adversária ideal para Donald Trump, que buscava retornar ao poder representando a ala mais conservadora da nação. A troca de Biden por Harris aqueceu as discussões em torno das pautas ideológicas como o direito ao aborto em todo o país, a ideologia de gênero e a permissividade com a imigração ilegal. As diferenças entre Harris e Trump ficaram cada vez mais evidentes e opostas, a mídia intensificou seu apoio à possibilidade dos Estados Unidos contarem com sua primeira presidente mulher e passamos a ver uma polarização cada vez mais acentuada entre os eleitores, assim como já ocorre no Brasil desde o governo Bolsonaro. A clara preferência da imensa maioria da mídia, da fortíssima indústria do entretenimento, seus atores e cantores deu a todos a impressão de que a disputa seria apertada e a eleição seria definida apenas com os chamados estados-chave, ou swing-states, que ora votam em democratas, ora em republicanos.
No entanto, o que ocorreu surpreendeu a todos: mais uma vez os institutos de pesquisas erraram e Trump não só foi vitorioso no colégio eleitoral (votos dos delegados que definem oficialmente o novo presidente), mas também ganhou no voto popular – ou seja, Trump foi o mais votado pelo povo, que há 20 anos, na maioria, votava nos candidatos do partido democrata. O candidato que sofreu duas tentativas de assassinato, teve cinco milhões de votos a mais da população e cresceu significativamente entre setores da sociedade que sempre apoiaram majoritariamente os democratas.
Sem colocar em discussão quem é melhor ou pior, suas qualidades, defeitos, acertos, histórico, competência, capacidade de liderança, preparo ou qualquer outro aspecto sobre Trump e Kamala, temos de nos ater às implicações dessa mudança e seus impactos na decisão de investimentos. Por suas promessas de campanha, sua ampla vitória, que inclui maioria no congresso, suas crenças e sua gestão anterior, podemos inferir que o novo mandato de Trump terá, como resultados, um Dólar fortalecido, uma reorganização geopolítica com a busca de melhores condições comerciais aos Estados Unidos, um cenário econômico local com mais inflação no início, mas com redução gradual do peso do estado, a garantia da liberdade de expressão e o foco no pragmatismo, na retomada do desenvolvimento econômico e tecnológico dos Estados Unidos.
Uma recuperação da capacidade produtiva da maior economia do mundo deverá passar ainda por redução de impostos e pelo aumento da competição com outros países em diversas áreas, da produção automotiva à exportação de soja. Esse cenário deverá ser favorável aos mais diversos setores. No entanto, qualquer previsão sobre setores específicos, neste momento, é arriscada e prematura. Devemos aguardar o início do governo, as primeiras ações tomadas pelo novo presidente, a intensidade das mudanças, o sucesso das renegociações de acordos internacionais, o comportamento de cada um dos atores envolvidos nessa nova fase que se inicia oficialmente no dia 20 de janeiro de 2025.
Uma famosa frase de Warren Buffett diz: “nunca aposte contra a América”. Já se provou diversas vezes e temos todas as razões para acreditar que mais uma vez ela será profética: o mundo investe nos Estados Unidos; o Dólar é a moeda mais segura e de maior liquidez no planeta; mesmo passando por turbulências o país segue se reinventando, crescendo, produzindo, atraindo os melhores cientistas e profissionais.
O investidor brasileiro não pode ficar de fora, especialmente considerando que seguimos, como país, na direção contrária.