Europa, China, Japão e Emergentes: oportunidades, potenciais e riscos envolvidos

Cada vez mais investidores de todos os perfis têm aumentado seu interesse pelo exterior, seja para proteção de patrimônio ou aproveitar oportunidades que não vemos por aqui, como acontece no setor de tecnologia, defesa ou em vários outros, em maior ou menor grau. Afinal, se o Brasil representa menos de 2% do comércio mundial (e excluído o agronegócio essa participação seria ainda menor), por que nos limitamos a investimentos apenas dentro do país? Com o mundo cada vez mais conectado, a tecnologia de comunicação cada vez mais avançada, confiável e a nosso favor, assim como a tecnologia de segurança, praticamente não há mais fronteiras.

Se analisarmos nosso ambiente político, econômico-fiscal e jurídico, o Brasil não deixa de nos apresentar motivos para nos internacionalizarmos: a constituição sendo constantemente reinterpretada, a falta de compromisso com os gastos governamentais, a alta desenfreada de impostos, as liberdades que pouco a pouco desaparecem são apenas alguns exemplos. Uma situação que gera incertezas, aumento de custos, queda no consumo, fuga de investidores, baixa competitividade e tantos outros efeitos negativos à nossa economia. Sob qualquer aspecto, portanto, encontramos diversos motivos para investir no exterior.

Para onde ir então? Cada vez mais consolidada como uma potência rival aos Estados Unidos, a China segue crescendo, apesar de em taxas menores, e cada vez ocupa mais espaço na economia mundial com produtos de maior qualidade e tecnologia. Suas empresas e marcas são mais familiares e igualmente se consolidam no mundo todo. A Índia, que há muito tempo passou a ocupar espaço no desenvolvimento de tecnologia, pode ultrapassar a China em total populacional e passou a ser um dos principais destinos para uma nova onda de industrialização, o que deverá mudar o patamar do país em termos de desenvolvimento econômico e social. Outro exemplo do potencial do país vem da produção intelectual: muitos dos CEOs de grandes corporações mundiais e grandes cientistas são oriundos da Índia.

Entre os emergentes, países como África do Sul, Vietnã e México industrializam-se cada vez mais, aumentam seus PIBs, melhoram pouco a pouco sua situação social com mais empregos e consumo e passam a mudar gradativamente de patamar. A Argentina recupera-se de décadas de estagnação econômica, crescimento do estado e inflação descontrolada e parece retomar o caminho da reorganização econômica, com diversos esforços do governo Milei para atrair investimentos externos.
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A Europa segue sendo responsável por grande parte do PIB mundial, tem uma diversidade de culturas inigualável, uma sociedade economicamente menos desigual, conta com um sistema financeiro entre os mais avançados do mundo, grandes corporações e reúne grande parte dos maiores decisores de investimentos ao resto do mundo.

Então por que, apesar de termos argumentos suficientes para incluir qualquer um desses destinos em nossos investimentos, nosso foco segue sendo investir nos Estados Unidos? O motivo é totalmente racional: nenhum desses países reúne todas as condições favoráveis a investidores como ocorre nos Estados Unidos. A China segue sendo uma economia controlada duramente pelo governo, que mantém todas as decisões centralizadas no partido comunista, único decisor dos rumos do país. A economia não funciona pelo mercado, e sim por resultados ao partido. Um excesso de planejamento que se vê, por exemplo, na bolha imobiliária chinesa, que levou à quebra de corporações gigantes e a distorções na cotação do minério de ferro.

A Índia ainda tem sua sociedade baseada no sistema de castas, que produziu um enorme cisma social, ainda maior do que nos acostumamos a ver em outros países emergentes. O crescimento da indústria não será suficiente para incorporar a enorme população, que segue com baixa qualificação. Trata-se de um longo caminho a seguir, com décadas de um trabalho que necessita ser muito bem executado pelos governantes para colher bons resultados.

Uma situação semelhante à da África do Sul: apesar de mais industrializada, ainda enfrenta inúmeros desafios resultantes do período de apartheid e corrupção. Os desafios não são menores para outros emergentes como México, Vietnã ou outros. Baixa qualificação profissional, pobreza, corrupção, infraestrutura precária, defasagem tecnológica, entre outros, são fatores que afetam cada um desses países, em maior ou menor grau. Na América do Sul, além desses mesmos fatores, ainda vemos a instabilidade política, agravada com o sempre presente risco de volta do populismo que promete tirar a população da pobreza e entrega mais corrupção e benefícios aos amigos da classe política.

A Europa, por fim, reúne diversas condições interessantes para investimento, mas há muito deixou de crescer a taxas saudáveis para investimento externo. O crescimento econômico insuficiente reduz as oportunidades de ganhos e o continente já não atrai investidores externos como no passado. Por outro lado, sua sociedade passa por turbulências pela chegada de refugiados do norte da África e leste europeu, impondo enormes despesas aos governos e aumentando a instabilidade social.

Dessa forma, investimentos na China, Índia ou em algum dos emergentes podem, sem dúvida, representar grandes oportunidades, mas carregariam um alto nível de risco. Na Europa, se temos segurança, as oportunidades são escassas. Na contramão de tudo isso, os Estados Unidos seguem sendo a potência mais influente, econômica, política e cultural do mundo. Atrai os maiores cientistas, mantém-se no topo do desenvolvimento tecnológico em todos os setores, e concentra as empresas que determinam o avanço mundial, mas que se orientam pelas leis de mercado: seus resultados serão tanto melhores quanto suas estratégias forem eficazes.

Seu ambiente continua sendo estável, seguro, previsível e promissor, o que consolida o país como o destino ideal para investidores externos. Também concentra grande parte das instituições financeiras mais tradicionais e sólidas do mundo, com um sistema regulatório, jurídico e tecnológico altamente avançado e confiável para investidores do mundo todo. Com tudo na balança, temos motivos de sobra para manter nosso foco nos Estados Unidos quando se trata de internacionalização de capital.